quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Tinha a imaginação muito fértil quando criança. Às vezes imaginava coisas estranhíssimas. Quando sabia de algum acidente de trem, no trem que ia de Aurora para Fortaleza, ficava imaginando trem virado, aquela coisa enorme tombada. Quando as pessoas contavam um acidente de trem, estava sempre muito atento. Então um dia, alguém falou que, num acidente de trem, alguém cortou a cabeça. Passei dias imaginando alguém descendo na estação sem a cabeça e andando pela cidade. Não era um pensamento que me assustava, não, ao contrário. A pessoa sem cabeça se vestia como os outros, com um terno branco, e andava como os outros normalmente. Descia do trem e andava pela cidade, só que sem cabeça.

O trem me fascinava porque era um espaço que se movimentava. As pessoas não ficavam tão acomodadas como ficam no ônibus, presas na poltrona. No trem, dava para andar, passava gente vendendo coisas, conversando e coisa e tal. O mais fascinante era poder ir ao vagão-restaurante comer alguma coisa. Como não tinha dinheiro, só ia ver. E era fascinante ver as pessoas comendo naquele lugar. Era tanta poeira ao longo da estrada, que as pessoas usavam, como indumentária na hora de comer, uma toalha no pescoço. Não era nada luxuoso. Os pratos servidos eram arroz, feijão, bife. Mas aquilo me fascinava. As garrafas de cerveja, tremendo ao balanço do trem, me fascinavam mais ainda.

no calor da tela - pedro jorge de castro - cineasta

Um comentário:

Flor de Bela Alma disse...

Pedaços de meu pequeno aqui...lindíssimo seus recortes, honey!