quarta-feira, 26 de novembro de 2008

a respeito de um concerto do quarteto de Thelonius Monk em Genebra, março de 1966

Agora as luzes se apagam, nós nos olhamos ainda com o leve tremor de despedida que sempre nos invade ao começar um concerto (atravessaremos um rio, será outro tempo, o óbolo está pronto) e o baixista já levanta seu instrumento e o sonda, brevemente a vassourinha percorre o ar do timbal como um calafrio e lá do fundo, dando uma volta totalmente desnecessária, um urso com um gorro entre turco e solidéu se encaminha para o piano pousando um pé na frente do outro com um cuidado que evoca minas abandonadas ou aqueles cultivos de flores dos déspotas sassânidas em que cada flor pisada significava uma lenta morte do jardineiro. Quando Thelonius se senta ao piano toda a sala se senta com ele e produz um murmúrio coletivo do tamanho exato do alívio, porque o percurso tangencial de Thelonius no palco tem algo de arriscada cabotagem fenícia com prováveis encalhamentos nos recifes e, quando a nave de escuro mel e barbudo capitão chega ao porto, é recebida no cais maçônico do Victoria Hall com um suspiro de asas apaziguadas, de quebra-mares corretos. Então é Pannonica, o Blue Monk, três sombras que parecem espigas rodeiam o urso investigando as colméias do teclado, as toscas garras benevolentes indo e vindo entre abelhas desconcertadas e hexágonos de som, passou somente um minuto e já estamos na noite fora do tempo, a noite primitiva e delicada de Thelonius Monk.

julio cortázar - a volta ao dia em 80 mundos

sábado, 15 de novembro de 2008

A dúvida de Sancho Pança

serão as donzelas
(dulcinéias e quejandas)
mais gentis
e mais formosas
quando impossíveis?


adalberto muller
O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo todo.


gregório de matos

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

vale a pena ouvir o que steve jobs tem a dizer

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