segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Poesia não é uma coisa que se invente. Ela está aí, imanente, no céu, no ar, no fogo, no mar, nas montanhas, nos homens, nas mulheres, nas crianças, nos animais domésticos, nas feras, nas águas e nos sabiás, nas sardinhas e nas baleias, nas frutas, nas pedras, nos minérios, na luta pela liberdade, na vida e na morte, em tudo o que existe e por existir... Não é poesia que falta, mas poetas.

vinicius de moraes

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Quando olhar para trás, haverá coisas de que vai se arrepender.

Você tomou a decisão errada.

Errado. Você tomou a decisão certa.

A vida é feita de decisões.


1. É melhor ter um carro prático ou um carro veloz?
2. Devo ir para a universidade ou arranjar um emprego?
3. Prefiro tomar vinho, cerveja ou água?

Qualquer que seja a sua decisão, é a única que você poderia tomar. Caso contrário, você tomaria uma decisão diferente.

Tudo o que fazemos são escolhas. Então, do que se arrepender? Você é a pessoa que escolheu ser.


tudo o que você pensa pense ao contrário - paul arden

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.

guimarães rosa

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Como sempre, depois do jantar todo mundo saiu para a caminhada habitual nos trilhos do trem. Fazer o footing, como os adultos diziam. Era parte do ritual das férias. O casarão da sede da fazenda Visconde, pertencente à família da minha mãe, fica a 100 metros de uma estaçãozinha da Mogiana com o mesmo nome, construída justamente para escoar a produção de café da fazenda. Em todas as férias, enchíamos a casa de tios, primos ou amigos da família para temporadas de duas semanas. Nestas caminhadas noturnas pelos trilhos, íamos até um bambuzal onde havia uma mina d’água, na beira da ferrovia. Eu tinha então uns 8 ou 9 anos.

Naquela noite (de 1963 ou 64), deixei o grupo avançar e fui ficando para trás ouvindo as conversas e a cantoria se afastando aos poucos. Quando as risadas tornaram-se quase inaudíveis, deitei num dormente e apoiei a cabeça no trilho, disposto a enfrentar meu medo. Olhei então para o magnífico céu de Brodosqui, tentando medir a distância entre as estrelas, tentando entender a escala daquilo e sentir onde eu me encaixava.

Desde os 7 anos eu tinha esse hábito. Ao deitar antes de dormir, olhando o teto escuro do meu quarto, me projetava no tempo imaginando onde iria acabar minha vida, procurando entender como seria estar morto, como seria o não-ser. O pensamento nunca passava de um ponto, no qual eu vislumbrava um grande vazio que parecia a porta do Nada. Tomava sempre um susto com o que sentia. Era um frio, meu coração disparava e meu pensamento era desviado para outro lugar, como se um dispositivo automático ativasse um reflexo para me tirar daquele estado assustador. Era apavorante.

Detestava a sensação, mas não conseguia evitar e sempre voltava para aquela situação. Era o mesmo tipo de atração ou vertigem que sentimos quando estamos à beira de um precipício. Houve um período em que comecei a dormir com alguma luz acesa para evitar a tentação de pensar na minha própria morte. Olhar para o céu à noite sempre foi um gatilho infalível para me levar à beira do abismo, por isso eu evitava fazê-lo. Mas naquela noite eu resolvi enfrentar.

Deitado ali, olhei para o céu, disposto a não me desviar. Queria pensar aquele pensamento até o fim. Fui assolado por um pavor que nunca mais esqueci. Deitado ali num dormente, diante daquela imensidão, tive a noção precisa da minha insignificância. Tomei uma espécie de choque gelado, foi tão terrível que não consegui nem chorar. Corri para junto do bando e prometi a mim mesmo nunca mais fazer aquilo. Nunca esqueci aquela experiência que foi um dos momentos mais marcantes da minha vida. E foi tão simples: um moleque deitado no trilho, olhando para o céu.

Aos 14 anos, eu tinha a certeza absoluta de que teria uma morte prematura e não emplacaria os 30. Conseguia aceitar bem este “destino” e, inclusive, avisava a todos “o que iria me ocorrer”. Minha mãe ficava brava cada vez que eu tocava nesse assunto, mas eu sabia que seria assim. Contava meus anos ao contrário: quantos anos faltavam e não quantos já haviam passado. Só que errei. Passei dos 30. Mesmo assim a morte continua sendo o grande tema da minha vida. Penso nela todos os dias, várias vezes por dia, aliás. Só que agora a contagem regressiva termina lá pelos 100 (conto com o desenvolvimento da ciência) e não mais nos 30.

Como alguns palestinos, todos nós carregamos a bomba que vai nos explodir a qualquer momento. Muita gente consegue viver como se ela não estivesse ativada. Eu não consigo. Escuto o tiquetaque da minha bomba o dia todo. Compreendo perfeitamente o pavor do Capitão Gancho, ao escutar o tiquetaque do seu próprio tempo passando, vindo do despertador na barriga do crocodilo.

Aquela experiência do trilho parece que alterou minha perspectiva frente à vida para sempre. Me sinto às vezes como um extraterrestre ou como um historiador. Alguém que, muitas vezes, apenas observa a vida de longe, sem estar envolvido apaixonadamente no dia-a-dia. Mas estar consciente do próprio fim a cada instante não é uma atitude de todo mórbida ou depressiva, como se possa imaginar. Pelo contrário. Ter consciência do meu próprio limite e da minha absoluta irrelevância ante a grandiosidade do todo me torna mais tolerante, quero crer.


biografia prematura - fernando meirelles - cineasta

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

eu queria querer-te e amar o amor
construir-nos dulcíssima prisão
e encontrar a mais justa adequação
tudo métrica e rima e nunca dor
mas a vida é real e de viés
e vê só que cilada o amor me armou
eu te quero e não queres como sou
não te quero e não queres como és
ah! bruta flor do querer
ah! bruta flor, bruta flor


o quereres - caetano veloso