sexta-feira, 6 de maio de 2011

Num restaurante do centro, Haydée Lange e eu conversávamos. A mesa estava posta e restavam fragmentos de pão e possivelmente dois cálices; é verossímil supor que havíamos jantado juntos. Discutíamos, acho, um filme de King Vidor. Nos cálices devia haver um pouco de vinho. Senti, com um início de tédio, que estava repetindo coisas já ditas e que ela sabia disso e me respondia de forma mecânica. De repente me lembrei que Haydée Lange morrera havia muito tempo. Era um fantasma e não sabia. Não senti medo; senti que era impossível e talvez descortês revelar-lhe que era um fantasma, um belo fantasma.

O sonho se ramificou em outro sonho antes que eu acordasse.


jorge luis borges - atlas