Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação. Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores.
manoel de barros – memórias inventadas – a infância
2 comentários:
Sempre leio os textos que estão aqui e fico me perguntando o que será que eles revelam sobre você?!É tudo tão bonitinho, corajoso, original...hum acho que você é tudo isso: Bonitinho, corajoso e original.
Beijos com ternura (rsrs)
lindíssimo.
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